Entrevista - Auda Piani

Durante a primeira visita à biblioteca Avertano Rocha, situada na Rua Manoel Barata, tivemos acesso a vários materiais referentes ao Distrito de Icoaraci. Um livro chamado “Mestres da Cultura”, ganhou destaque pela funcionária que estava nos auxiliando. Ela nos contou que a obra havia sido escrita por Auda Piani Tavares, pesquisadora que reside a poucas quadras dali. Rapidamente demonstramos interesse em conhecê-la, já que a senhora Auda havia desenvolvido vários projetos que buscavam a valorização da cultura de Icoaraci.
A bibliotecária apenas nos informou a rua em que Auda mora (Rua Padre Julio Maria ou Terceira Rua) e que encontraríamos uma casa diferente das demais, “com arte por todos os cantos”. Pedimos ajuda aos moradores da área e assim achamos a residência.
Fomos atendidos por Werne, artista plástico/visual e marido de Auda. Identificamo-nos, falamos o porquê da visita inesperada e, sem muitas perguntas, ele nos deixou entrar. Instantaneamente foi possível associar a grande produção artística ali presente ao comentário feito pela bibliotecária. Depois de alguns minutos, tivemos o primeiro contato com Piani. A pesquisadora deu-nos um apanhado geral sobre sua vida, trabalhos e ligação com Icoaraci. Bastante atenciosa, concordou em ser oficialmente entrevistada por nós na semana seguinte.
No decorrer da pesquisa, utilizamos um ponto de referência do qual parte do grupo (eu – Isabelle −, Maiana, Anny e Thaís) saía em direção a Icoaraci, o Supermercado Nazaré, localizado na Rodovia Augusto Montenegro. Chegamos à casa de Auda, onde foi ao nosso encontro o restante do grupo (Wesgley e Rayssa), por volta de 15h30. Começamos a conversa com perguntas básicas previamente feitas, mas de modo que a entrevistada se sentisse confortável.
Nitidamente percebia-se que lidávamos com uma pessoa comprometida com a valorização cultural do local. Isto foi comprovado pelos diversos projetos/movimentos sobre os quais ela nos relatou: MOVA-CI, Café com Pupunha, Casa do Artista, Mestres da Cultura.
O Mova-CI foi um movimento cultural criado em 1998 que reunia artistas, produtores culturais e ativistas, todos engajados em lutas específicas, como a questão do Chalé Tavares Cardoso e da Estação de Trem; lutas sociais como a inserção de jovens da periferia em atividades integradoras, e pelo reconhecimento dos chamados “mestres da cultura”. O movimento entende a arte como um instrumento de mudança na sociedade, de transformação.
                “A gente fazia os cortejos culturais, a gente fazia oficina com estudantes, oficinas de leitura, oficina de street dance (que era o hip-hop na época), de teatro; mostras de cinema, show na rua, exposição, tudo que dava a gente fazia nessas mostras de cultura. [...] Era o nosso espaço de militância”.




Tudo isso serviu de estímulo para o desenvolvimento dos outros projetos. Em 2004, por exemplo, promoveram “A Memória na Fala dos Mestres de Cultura de Icoaraci’’, no qual Auda e seu grupo buscavam inteirar-se sobre as manifestações culturais de Icoaraci, como, por exemplo, os ceramistas, festas populares de santos, boi-bumbá, carimbó, entre outros. Por “mestres de cultura” compreende-se as pessoas que organizam essas manifestações há muito tempo e que contribuem para que a cultura popular do Estado se evidencie, se preserve e se transforme, dentro da contemporaneidade. A partir dessa pesquisa exploratória foram elaborados vídeo-documentários e o livro “Mestres da Cultura”.



No projeto denominado “Café com Pupunha”, surgiu do interesse em conhecer e registrar, sob a perspectiva de moradores antigos, características marcantes dos bairros do Distrito, principalmente quanto a fatos históricos, costumes, imaginário, ofícios, paisagens e lazer. Eram realizados encontros, acompanhados de café e pupunha, em que se organizava uma roda de conversa, e dialogavam informalmente acerca dos causos vivenciados pelos entrevistados. Porém, pela falta de investimento público ou outro tipo de patrocínio, não se conseguiu concluir o projeto por completo, sendo publicado apenas um volume do livreto sobre os bairros Campina (Furo do Maguari), Ponta Grossa e Paracuri.
“A gente levava café, pupunha e farinha, e fazia uma roda e deixava café, pupunha espalhada pras pessoas à vontade e ia perguntando as histórias do bairro, como surgiu aquele bairro, qual era as histórias do imaginário, né? As visagens que existiam ali, as brincadeiras da época, como era a paisagem daquele bairro, e a gente ia gravando. A gente conseguiu coletar material de 9 bairros de Icoaraci. ”
Atualmente, Auda possui o projeto “Casa do Artista”, em que ela transforma a própria residência numa galeria de arte, afinal, seu esposo produz arte com grande frequência e eles enfrentam dificuldade com a divulgação das produções. Na casa/galeria acontecem saraus de poesia, shows musicais, “contação” de história e exposição das produções de Werne.
Ao longo da entrevista com Auda Piani, pudemos observar que todo esse interesse se deu devido ao fato de a cultura local, tão diversificada, ser pouco evidenciada. Quando indagada a respeito do que a motivou a desenvolver tantos trabalhos voltados para Icoaraci, obtivemos a seguinte resposta: “Icoaraci por si só pulsa muita cultura e arte. [...] Eu acho que o que levou foi isso, foi a própria efervescência cultural de Icoaraci e interesse pela arte”. Tudo que produziu/produz objetiva ressaltar um contexto local. É óbvio que a cerâmica deve sim ser enaltecida, no entanto, Icoaraci tem muito mais a oferecer.







































































































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