Entrevista - Oleiros (Paracuri)

Ângela Marques


No que diz respeito a sua iniciação ao ofício de ceramista, a Dona Ângela nos informou que começou a atividade por influência de seus pais, demonstrando que a profissão de oleiro é passada de geração em geração. Ela começou a aprender sobre ofício por volta de seus 8 anos de idade, por causa do baixo poder aquisitivo de sua família, Dona Ângela começou a fazer brinquedos de cerâmica. Segundo Dona Ângela a sua mãe produzia animais característicos da fauna amazônica e seu pai produzia índios. Sempre depois das aulas Dona Ângela gostava de ir até a olaria de sua mãe para ver a produção dos animais. O que também despertou o seu interesse foi seu gosto em visitar um espaço que se encontrava na 7º rua denominado “África” (esse espaço não existe mais), que era um espaço onde artesões negros se encontravam para a produção de cerâmica. Os integrantes do “África” eram pessoas que moravam próximas umas as outras e também produziam animais da fauna amazônica.
Por volta de seus 18 anos Dona Ângela começou a namorar um rapaz que não era cerâmista de profissão, mas devido ao fato de estar desempregado ele iniciou seu trabalho como ceramista. Neste sentido ele produzia os vasos e ela fazia os grafismos, a produção cresceu ao ponto de criarem a sua própria loja de cerâmica e sobreviveram dela. Atualmente ela está trabalhando com encomenda de cerâmicas e com as vendas de argila e cerâmicas no local de produção.



A respeito da manutenção do ofício, Dona Ângela passou os ensinamentos referentes ao seu ofício a suas filhas. Da mesma forma que lhe foi repassada ela deu continuidade, algumas de suas filhas também trabalham como ceramista.
Com relação a sua opinião sobre a visibilidade do seu trabalho, ela nos conta que gosta de viver em Icoaraci, mas que é economicamente viável a comercialização das suas produções em outros locais. Segundo a Dona Ângela, a arte é pouco valorizada por estar sendo comercializada em seu local de produção, por este motivo ela possui como um de seus meios de comércio os “atravessadores”, pessoas que revendem o produto produzido por ela em outras localidades da Região Metropolitana de Belém. Mas mesmo com essa desvalorização ela diz que a população de Belém consegue evidenciar a importância das peças produzidas, isso se comprova na existência de profissionais nesta área. As peças recebem um valor maior pelos turistas que vem de outros estados e municípios, por isso ela gostaria que a sua arte fosse comercializada em outras localidades, pois desta maneira ela teria a devida valorização e atenção, necessárias para a obtenção de lucro.



Sobre as peças de maior interesse, os turistas de localidades mais afastadas buscam por replicas de peças que foram encontradas por arqueólogos, estas replicas são as heranças dos povos indígenas, como a marajoara e a conânim existentes apenas nos museus.
Nos foi relatado existe um grupo de ceramistas que fazem essas réplicas em parceria com o museu. Os artesões têm acesso aos achados arqueológicos no museu, que fica na Perimetral e próximo a UFPA, toda a segunda-feira para realizar esse trabalho. Desta forma eles conseguem um maior detalhamento dos objetos, como as medições e características, pois, segundo ela, os índios fabricavam algumas peças com características distintas no próprio objeto. No fim essas replicas trouxeram para o bairro uma parceria entre o museu e o Liceu de Icoaraci, será produzida duas peças de cada achado arqueológico que serão distribuídas para ambos os locais, no intuito de propagar o ofício, trazer mais visibilidade para a profissão e vender as réplicas.
Sobre a COARTI, como o prédio original não pode mais abrigar os ceramistas, por ser antigo e esta em risco de desabamento, a associação não está exercendo atividades no momento e encontra-se fechada e sem previsão de retorno. Mas existe um projeto de reforma do prédio, essa está prevista para começar no segundo semestre deste ano. A reforma do prédio e a retomada das atividades da COARTI representam uma melhor divulgação dos trabalhos de ceramistas, por este motivo é extremamente importante. Essa importância se demonstraria na criação de uma rota turística, para facilitar a divulgação do artesanato.


 Segundo ela, por volta de 15 anos atrás houve uma “febre” de artesanato, um grande aumento na procura pelo artesanato do Paracuri, onde eles recebiam turistas de varias localidades. Essa febre era tão grande que a Dona Ângela chegava a reclamar de grande demanda e procura pelo artesanato, ela contava que em alguns momentos ela não tinha tempo para comer e para queimar a cerâmica, ao ponto do artesanato ser vendido sem ser queimado. Mas atualmente a situação mudou e o único ponto de procura é a loja do Seu Anísio, pois ele tem uma parceria com o guia turístico, aonde ele fornece uma pequena comissão ao guia para levar os turistas até a sua loja. Como as outras lojas não dispões de meios de divulgação a profissão está se perdendo, e algumas olarias estão fechando para dar lugar a outras lojas e terrenos. Isso prejudica a manutenção da profissão, pois acaba gerando desmotivação nas gerações futuras de ceramistas, devido às dificuldades que as novas gerações encontram na realização do ofício.

Por fim, Dona Ângela diz que os órgãos competentes, como o governo e o SEBRAE, não dão o devido apoio e valor a profissão. Deixando os artesãos apenas com promessas de melhorias e com grandes dificuldades em dar continuidade as suas atividades. 




































































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