História de Icoaraci
Icoaraci
nasceu entre o Igarapé Paracuri e o furo do Maguari as margens da baía do
Guajará. Existe desde o século XVII, mas o governo Provincial só iniciou sua
ocupação no século XVIII. Foi doada, foi transformada em duas fazendas (São
João do Pinheiro e Nossa Senhora do Livramento), foi vendida, foi transformada em
povoado, em vila e por fim em um Distrito de Belém. Passou por diversas
mudanças sociais, econômicas e urbanas até se tornar o que é hoje.
Assim
como Belém, Icoaraci “ocorreu a partir da fundação de fortificações, de missões
religiosas e de núcleos populacionais às proximidades dos rios” (DIAS, 2007).
No século XVIII, Icoaraci foi doada por Carta de Datas e Sesmaria a
Sebastião Gomes de Souza que iniciou a ocupação desse território com a construção
das primeiras casas as margens do rio. Posteriormente, a mesma foi doada à
Ordem dos Frades Carmelitas Calçados que fundaram as fazendas São João do
Pinheiro e Nossa Senhora do livramento, na ponta do Mel e as margens do Igarapé
Paracuri, respectivamente, onde desenvolveram a atividade da olaria, extração
de argila, areia e lateritas (pedra Pará) reproduzindo atividades econômicas semelhantes
das demais Sesmarias.
Em
1750, o conjunto de casas pertencentes à Fazenda Pinheiro passou a ser
conhecido como Santa Isabel do Pinheiro. Posteriormente as terras do Pinheiro
foram compradas pelo Presidente da Província, Francisco Soares D’Andréia, para
serem transformadas em um lazaretto (hospital ou casa de abrigo a pessoas portadoras de hanseníase) que seria administrado pela Santa
Casa de Misericórdia do Pará. Entretanto, por motivos de falta de recursos não
houve a execução de tal projeto e as terras acabaram sendo arrendadas em 1862,
pelo alemão Adolfo José Kaufss, durante nove anos por 500$00 réis anuais. O
sistema de arrendamento não alcançou os objetivos do Governo, que propôs que a
Fazenda fosse promovida a povoado, dando início “a transição da Fazenda Pinheiro
– a categoria de povoado de Santa Isabel, pelo Decreto Lei Nº. 598, de 8 de
outubro de 1869” (DIAS, 2007).
Este
acontecimento foi fundamental para o nascimento de Icoaraci e a partir dele, o
Cônego e Vice-Presidente da Província, Manoel José de Siqueira Mendes, iniciou
a definição e demarcação do território da Fazenda que passou a ser conhecida
como Povoado Santo Antônio do Pinheiro, em seguida após a proclamação da
República o povoado se tornou Vila Pinheiro. O padrão urbanístico implementado
em Icoaraci, desde sua fundação, foi totalmente diferente do padrão urbanístico
português, em que as ruas são estreitas e tortuosas. As ruas e travessas eram
paralelas e perpendiculares umas às outras, alinhadas ao curso da Baía do
Guajará e do Furo do Maguari. O núcleo urbano se expandiu a partir da margem da
baía e do furo, caracterizando o padrão ribeirinho de
urbanização, depois subiu para as áreas de terra firme, desviando-se das
várzeas dos rios e igapós que mais tarde viriam a ser o atual sítio do
Distrito.
As
atividades econômicas desenvolvidas formaram uma importante rede de comercio
nas proximidades.
“[...] as
transformações econômicas, políticas e sociais pelas quais passou a Amazônia a
partir da segunda metade do século XIX, com o advento da economia gomífera,
ocasionaram que parte da elite local de Belém transformasse a Vila em segunda
moradia, quando passaram a construir casarões com estilo arquitetônico europeu
variado; assim como religiosos também fixaram suas ordens no mesmo, passando a
ocupar principalmente o atual bairro do Cruzeiro. Essa parcela da população
imprimiu no espaço uma paisagem diferenciada do restante do núcleo pelo padrão
arquitetônico de suas residências, a maioria voltada para a baía, refletindo o
esplendor de um modo de vida e ao mesmo tempo de poder econômico [...]” (DIAS,
2007).
O
núcleo inicial da vila foi ocupado por uma população de melhor poder aquisitivo,
com estabelecimentos comerciais e residenciais, distante do centro (comércio
local) e da população de menor poder aquisitivo. “Até o Governo de Paes de Carvalho havia ainda o
isolamento da Vila em relação à cidade de Belém. Em 1899, foram incorporadas ao
patrimônio espacial da Vila do Pinheiro as terras do Tapanã [...]” (DIAS,
2007). Em
1906, a Vila Pinheiro passou a ter uma relação mais próxima de Belém com a
criação da Estrada de Ferro de Bragança (EFB), por meio do Ramal do Pinheiro. O
advento da EFB representou uma significativa melhoria do sistema de transporte,
uma vez que possibilitou um maior fluxo de pessoas e mercadorias entre a Vila e
a cidade.
Nesse
contexto, a Vila começou a receber um “[...] maior
fluxo das famílias tradicionais e de melhor poder aquisitivo de Belém em face
às condições naturais ali existentes e as proximidades da cidade.
Privilegiaram-na como local de segunda moradia, de férias, feriados prolongados
e finais de semana, e como para recreação e lazer [...]. Com a abertura e
pavimentação das rodovias que passaram a ligar a vila à cidade, esta passou a
ser o local de veraneio da camada da população de menor poder aquisitivo, sendo
por um longo período considerado como balneário de Belém” (DIAS, 2007).
No início do século XX, a Vila passa a
abastecer a população local e da região do entorno como gêneros alimentícios e
bens de consumo não duráveis. Por causa de sua posição geográfica, a Vila
manteve e mantém até hoje relações com as regiões do Baixo Tocantins, do
Salgado, do Marajó e das ilhas próximas. Até as primeiras décadas do século XX
a Vila não ultrapassava a sua configuração inicial, existindo apenas alguns
núcleos afastados (Tenoné, Aguas Negras, Agulha, Brasília, Vila dos Inocentes,
Tapanã, Maracuera e Pratinha) que mantinham características rurais que a
posteriori se tornaram bairros do Distrito. Nesse mesmo período, a economia
gomífera entra em declínio forçando a mudança de atividade econômica em toda
região Amazônica. Na Vila Pinheiro, nas proximidades do furo do Maguari e da
baía do Guajará, passaram a se instalar usinas de beneficiamento de castanhas,
curtumes, serrarias, olarias, fábrica de sabão, farelo de sementes regionais,
entre outras.
Como consequência do processo de
substituição de atividades econômicas a Vila Pinheiro ganhou foro próprio, uma
Subprefeitura e alguns serviços – como posto Policial, Agência de Correios e
Telégrafos e uma Estação de Trem – assumindo papel de fornecedora de gêneros alimentícios
(peixes, mariscos, produtos de agricultura de subsistência, produtos da cultura
de fundo de quintal). Em 1913, a Vila também passou a abastecer Belém com carne
bovina e suína a partir da instalação do Matadouro. As olarias ganharam espaço
e se distribuíam ao longo das várzeas dos rios, igarapés, provavelmente,
incentivadas pela construção civil.
“[...] até a década de 1950 a maioria das ruas era só
um matagal. Da Quarta até a Sétima rua não era possível trafegar, pois as
mesmas eram interrompidas em seus percursos de trechos por várzeas do igarapé
tabocal. Do que se poderia chamar de rua, era só caminho coberto de mato, e o
caule de árvore era que servia de passagem, principalmente da palmeira de açaí.
A Estrada do Matadouro como era conhecida a atual Cristóvão Colombo, era uma
das mais importantes travessas, foi a primeira a ser pavimentada. Icoaraci
compreendia o traçado que ia da 1ª até 7ª rua.
64 Os que moravam fora dessa configuração espacial delimitada pelas ruas
traçadas já mencionadas não se consideravam moradores de Icoaraci, diziam “vou
lá na frente e/ou vou lá no Pinheiro” (DIAS 1997)
DIAS,
Mário Benjamin. Urbanização e Ambiente
Urbano no Distrito Administrativo de Icoaraci, Belém-PA. São Paulo: USP,
2007.