Entrevista - Oleiros (Paracuri)
Lauro Miranda - Anísio Artesanato
(FONTE: Arquivo do grupo) Seu Lauro e Seu Anísio |
Lauro Miranda é artesão
desde os 10 anos de idade, mas atualmente trabalha na administração da olaria Anísio
Artesanato. Seu Anísio trabalha com artesanato há 38 anos, ele começou esse
ofício para ter uma fonte de renda para sobrevir. Na olaria são produzidas
peças decorativas (maioria) e utilitárias que tem inspiração na arte marajoara.
A cerâmica do Anísio Artesanato é conhecida internacionalmente, ele já expôs suas
peças em vários lugares do mundo (França, Nova York, Colômbia, etc). Revelou
também que 99,9% das peças são consumidas por turistas do centro-sul do país.
De acordo com seu Lauro,
os Governos Estadual e Municipal atrapalham muito os produtores de cerâmica,
com as obras do PAC I que acontece no Paracuri próximo a várias olarias,
inclusive a de Seu Anísio. Para Seu Lauro, a criação de um canal de escoamento
da produção ajudaria muito nos negócios.
Seu Lauro nos explicou um
pouco sobre o processo de fabricação das peças de cerâmica. Segundo ele, o “torno
de chute” possui esse nome pelo fato de receber velocidade na forma de
“chutes”, é preciso aplicar força através dos pés para que ele receba a força
necessária. Seu Lauro também conta sobre a matéria prima que é modelada nesse
instrumento, esse material é: barro ou argila, ambos de várzea, retirada das
margens do rio Paracuri. O material é retirado in natura e após a extração ele passa por um processo de
tratamento, para a remoção das impurezas. Por fim, ela é “massageada” para a
sua utilização. Após todos os procedimentos realizados, incluindo a modelagem
do objeto, a cerâmica é posta para “secar”, processo que se consiste no
endurecimento do material, e desta forma será possível fazer os grafismos
característicos da cerâmica marajoara e, por fim, será levada ao forno por um
período de 15 a 20 dias, a uma temperatura de 900º C para se transformar na
cerâmica, que segundo a língua tupi-guarani significa barro ou terra queimada.
No que diz respeito a sua
cerâmica, para os interessados em aprender a arte da produção de cerâmica, eles
não possuem oficinas de modelagem, mas segundo o seu Lauro esse ofício pode ser
aprendido no Liceu de Icoaraci ou no Curro Velho. Segundo o seu Lauro, o ofício
de ceramista “é de sangue”, não é uma atividade que possa ser simplesmente
ensinada, pois ela está ligada intimamente a identidade dos moradores do bairro
do Paracuri, os ceramistas, essa atividade é uma herança do próprio bairro. O
ato de produzir cerâmica carrega todas as características daqueles que nascem
no bairro ou escolhem ele como residência, por isso ela se configura em como
algo totalmente íntimo e de grande peso simbólico para os moradores. A arte
ceramista ainda passa por manutenção até hoje, no que diz respeito ao repasse
para as gerações futuras, apesar de alguns não terem o desejo de dar
continuidade a essa atividade pelo fato de existir a desvalorização deste
ofício.
Nas cerâmicas são utilizados
vários tipos de tintas, extrato de nogueira e betume. A cerâmica de Seu Anísio
ficou entre as 100 melhores lojas de artesanato do Brasil segundo o concurso do
SEBRAE, demonstrando como ela é valorizada por especialistas da área.
As vivências de seu
Lauro em Icoaraci nos revelam sobre seu o ponto de vista sobre o Distrito.
Nesse sentido ele fala sobre como o descaso com Icoaraci instaurou uma visão
negativa dos moradores da Região Metropolitana de Belém sobre o Distrito. Os
preconceitos se refletem na baixa procura dos visitantes/turistas pelos bairros
do Distrito. Seu Lauro explica que antigamente as pessoas costumavam visitar as
olarias, mas agora devido as obras que nunca acabam, na Augusto Montenegro e no
próprio Paracuri, estão evitando visitar o bairro e acabam valorizando somente
o centro de Belém.
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